– Filhos que amam os pais
Que extraordinária é a vida! Que grande benção foi termos nascidos neste mundo! O homem verdadeiro não é corpo carnal e sim espírito. Nascer na Terra, é um grande privilégio e oportunidade singular do nosso espírito crescer e se desenvolver.
Quando passamos a estudar os ensinamentos da Seicho-No-Ie compreendemos que a vida verdadeira não surge quando aqui nascemos, nem desaparece quando este corpo carnal morre. O corpo carnal é como uma vestimenta que o espírito imortal (vida verdadeira) utiliza quando na Terra se manifesta. Isto é semelhante a roupa de astronauta que o homem utiliza quando sai da atmosfera terrestre.
Aprendemos também que este homem verdadeiro já é perfeito desde o início, não sendo necessário acrescentar absolutamente nada. Porém, por ainda não dominar plenamente esta consciência máxima, necessitamos experienciar o “nascer” e o “morrer” inúmeras vezes, quando vamos aos poucos nos libertando da ideia do ser material, alcançando o despertar da nossa natureza divina.
Não nascemos aqui apenas porque queremos, mas também por uma necessidade do completar de um ciclo da vida. Quanto maior o despertar da consciência espiritual, mais fácil se torna este processo. Porém, quanto menor o grau desta consciência, mais penoso se torna o caminho a ser seguido. No entanto, todos, sem exceção, estamos no caminho do evoluir infinito.
Não fosse pelos nossos pais, não teríamos nascidos e, por consequência, ainda estaríamos esperando uma oportunidade de matricularmo-nos na Grande Universidade chamada Terra. Esta oportunidade pode ser agarrada consciente ou inconscientemente, mas sempre através do princípio da lei de causa e efeito, ou seja, os semelhantes se atraem.
Se o espírito da pessoa for pouco esclarecido, neste caso há uma espécie de “interferência” de espíritos mais evoluídos, normalmente antepassados da pessoa, que faz com que o seu nascimento na Terra se dê em uma família condizente com a sua necessidade de aprendizagem (da pessoa e também da própria família escolhida). Desta forma, podemos concluir que não há outro jeito de sermos realmente felizes e bem sucedidos nesta vida, a não ser através da convivência regrada pelo amor e gratidão à família a que hoje pertencemos.
Todas as pessoas, sem dúvida alguma, amam seus pais. Até mesmo aquela mais revoltada e rebelde. A maior prova disso pode ser obtida observando o comportamento das crianças. A criança pequena não enxerga defeitos em seus pais, pois ela os vê sob a ótica da Imagem Verdadeira. Não vemos criança reclamando dos pais, ou exigindo ser amada, isso porque ela ainda não aprendeu a “comparar”. Então, ela simplesmente ama seus pais.
Quando afirmo que “ela ainda não aprendeu a comparar”, quero dizer que boa parte dos nossos sofrimentos começa quando fazemos comparação. Quando comparamos nossos pais a outros pais, ou quando comparamos o que recebemos deles com o que nossos irmãos também receberam. Ou ainda comparamos nossa família à outra família, criamos a partir daí, inúmeros questionamentos que só fazem aumentar nossa angústia e descontentamento com relação à vida.
Se, ao invés de comparar e reclamar, agradecêssemos pelo fato de termos nascido, ainda que depois fôssemos entregues à adoção, não haveria porque duvidar do amor de nossos pais. Cada qual dá o máximo que lhe é possível. Se não dá mais é porque não sabem como fazê-lo.
Quando converso com um filho que tem algum problema com seus pais, seja mágoa, tristeza, rancor ou mesmo ódio (desde pré-adolescente até um idoso), invariavelmente no decorrer da conversa peço para que, dentro daquilo que se é possível, se coloque no lugar deles em toda experiência que possivelmente viveram e questiono se o filho conseguiria fazer diferente ou melhor do que fizeram seus pais; chega a ser emocionante a resposta que dão. Normalmente entre lágrima dizem que NÃO!
Certa ocasião li um livro em que o autor dizia mais ou menos o seguinte: “Talvez o que marque a idade adulta seja quando a pessoa tem coragem de olhar para seus pais e dizer: eu lhes aceito do jeito que vocês são”. É muito provável que seus pais não sejam como você gostaria que eles fossem, mas não duvidem que eles são exatamente como você precisava que eles fossem.
Em setembro deste ano tive a oportunidade de orientar o Seminário da Luz na Regional PR-CURITIBA ao lado do professor Sinji Takahashi. Na ocasião, relatei que depois que me reconciliei com meu pai e nos tornamos amigos e confidentes quis saber dele por que ele bebia tanto. Ao que ele me respondeu, explicando sua profunda tristeza e decepção, que era porque não conseguia dar a nós, seus filhos, tudo aquilo que gostaria e que havia prometido a si mesmo ao decidir que seria diferente do pai dele quando ele também fosse pai. Expliquei-lhes que naquela ocasião meu despertar foi de que meu pai bebia porque nos amava muito e, então, minha mágoa e dor se transformaram em gratidão.
Pois bem, quando do término do Seminário, despedíamos dos participantes na saída do auditório, uma senhora de 71 anos me abraçou chorando e afirmou que naquele dia ela havia perdoado o pai dela que também bebia e havia morrido ainda moço. Contou-me que ela não conseguia entender por que seu pai bebia tanto, mas que ao ouvir minha história, havia compreendido o sentimento do seu pai e que agora estava feliz e aliviada.
Nesta minha caminhada no viver Seicho-No-Ie, aprendi algo libertador e que gostaria de dividir com os amigos leitores da Mundo Ideal. Na verdade é bem simples: “Quando eu mudo, tudo ao meu redor muda também”. Ao tomar conhecimento desta lei, me esforcei sinceramente em usá-la a meu favor. Praticando a meditação Shinsokan, fazendo reflexões e orações para perdoar, estudando com seriedade o ensinamento, fui aos poucos mudando meus conceitos e um novo mundo se descortinou em minha vida.
Ao aprender a amar aos meus pais como eles eram, minha relação com eles mudou por completo. Assim como as minhas atitudes e naturalmente a deles também. Graças a isso tive a oportunidade de ter como meu melhor amigo, meu pai, a quem por boa parte da minha convivência com ele só tivemos desentendimento, e isso antes que ele retornasse ao mundo espiritual.
Hoje, minha relação com minha mãe é simplesmente fantástica. Ela é minha amiga. A flor da minha vida. Esforço-me em viver de tal forma que tanto, ela quanto meu pai, sintam-se felizes com o filho primogênito deles. Por consequência, naturalmente levo uma vida alegre, feliz e cheia de realizações. Reconheço que se tenho uma vida familiar bem estruturada ao lado da minha esposa e filhos, devo isso à base que recebi de meus pais.